sexta-feira, 3 de maio de 2013

Bolívia: Línguas indígenas na sala de aula

Bolívia: Línguas indígenas na sala de aula

Escolas de ensino fundamental e médio são obrigadas por lei a oferecer um idioma nativo e um estrangeiro, além do espanhol.



       Alunos do primeiro ano do colégio Gregorio Reynolds, em La Paz, estudam a língua indígena aimará, além de espanhol e inglês. A medida foi uma resposta à nova lei da educação que determina o ensino de uma língua nativa durante o primeiro ano do ensino fundamental e médio na Bolívia. (Gemma Candela para Infosurhoy.com)
Alunos do primeiro ano do colégio Gregorio Reynolds, em La Paz, estudam a língua indígena aimará, além de espanhol e inglês. A medida foi uma resposta à nova lei da educação que determina o ensino de uma língua nativa durante o primeiro ano do ensino fundamental e médio na Bolívia. (Gemma Candela para Infosurhoy.com)

LA PAZ, Bolívia – As línguas indígenas agora estão sendo ensinadas nas salas de aula bolivianas.
Pela primeira vez na história do país, idiomas nativos são oferecidos a 2,7 milhões de estudantes de ensino fundamental e médio na Bolívia. O novo currículo de 2013 especifica que a disciplina “Língua e Comunicação” será ministrada em três idiomas: o espanhol, uma língua estrangeira e uma indígena.
Neste ano, a disciplina começou a ser ensinada no primeiro ano do ensino fundamental e médio. A cada ano, será estendida para a série seguinte, pois a meta de longo prazo é que seja oferecida em todos os níveis, segundo o vice-ministro de Educação Regular, José Quiroz.
A língua nativa a ser ensinada dependerá da localização da escola. Na Bolívia, 36 idiomas indígenas são falados, além do espanhol. A língua estrangeira também poderá variar entre o inglês, o francês e, ao longo das regiões de fronteira entre o país e o Brasil, o português.
Os Conselhos Sociais Comunitários serão responsáveis por escolher as línguas a serem incluídas na disciplina trilíngue. Esses grupos serão formados por educadores, pais, representantes indígenas, dirigentes de escolas e estudantes.
A etnia tacana foi uma das primeiras a entregar ao Ministério da Educação Regular o seu currículo regionalizado. O documento inclui conhecimentos tradicionais do povo tacana, que foram considerados na elaboração do conteúdo da nova disciplina.
Aprovada em 2010, a Lei Avelino Siñani-Elizardo Pérez, que regula a educação na Bolívia, prevê que os estudantes devem conhecer não apenas a língua materna, como também o conhecimento tradicional de seus povos.
“Quando os médicos vão cumprir o ano de província [período de serviço obrigatório nas áreas rurais], não conseguem falar com o nosso povo”, diz Franklin Gutiérrez, presidente do Conselho Nacional de Pais e Mães.
Treinamento profissional
O Conselho Nacional de Pais e Mães solicitou ao Ministério da Educação o treinamento de professores que ministrarão a nova disciplina.
“Mais de 90% dos professores não são trilíngues”, afirma o diretor da Federação do Magistério Urbano de La Paz, José Luis Álvarez, que fala espanhol, embora a língua nativa de sua família seja o quechua. “Só entendo [o quechua] quando escuto falarem.”


       Alunos chegam para o início da aula na escola México, em La Paz, onde os estudantes do primeiro ano do ensino fundamental e médio deverão aprender espanhol, inglês e a língua indígena aimará. (Gemma Candela para Infosurhoy.com)
Alunos chegam para o início da aula na escola México, em La Paz, onde os estudantes do primeiro ano do ensino fundamental e médio deverão aprender espanhol, inglês e a língua indígena aimará. (Gemma Candela para Infosurhoy.com) 

Nas zonas rurais, onde a primeira língua é a nativa, os professores frequentemente usam o espanhol, diz o diretor da Fundação Machaqa Amawt’a, Isaac Ticona, que trabalha na educação de povos aimarás e urus.
Ticona diz que esses professores usam as línguas originárias como complemento quando não conseguem explicar um conceito em espanhol. A ideia é que, com as novas regras, o professor também ensine o idioma indígena e o estrangeiro, o que claramente aponta a necessidade de capacitação, segundo Gutiérrez.
O ano escolar de 2013 começou em 4 de fevereiro e, até agora, o governo treinou 44.000 dos 140.000 professores do país para adotarem o novo currículo, afirma Quiroz.
Migração interna
Ainda não há decisão sobre as migrações internas. Na cidade de Santa Cruz, no leste da Bolívia, o guarani é a língua predominante. No entanto, alguns bairros, como o Plan 3000, abrigam imigrantes das etnias quechua e aimará.
Em casos como esse, a comunidade escolhe se os estudantes deverão aprender a língua nativa ou o dialeto da cidade adotada.
Além disso, Santa Cruz concentra comunidades menonitas alemãs, mas ainda não foi definido se a disciplina trilíngue será ensinada em espanhol, quechua e alemão.
“O fato de as línguas nativas não terem um sistema de escrita próprio não impede o aprendizado”, diz Ticona.
O artigo 7 da Lei Avelino Siñani-Elizardo Pérez especifica que os alunos devem iniciar a vida escolar em sua língua nativa e ela deverá ser usada em todo o período de formação.
Esse objetivo, no entanto, ainda não foi atingido, pois algumas partes do país ainda não estabeleceram como a disciplina trilíngue será ensinada, enquanto outras incorporaram o espanhol, o inglês e um idioma indígena aos seus currículos. Outras escolas têm apenas sinais nas três línguas e terão de determinar como ministrarão as novas aulas.
O colégio Gregorio Reynolds, em La Paz, ensina sua disciplina trilíngue em espanhol, inglês e aimará, segundo a diretora acadêmica da escola, Paola Trujillo.
“Estamos dando a eles o básico, como fazemos com o inglês”, afirma Paola. “Estamos começando pelo mais elementar.”

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