quarta-feira, 1 de maio de 2013

Favela radical

Favela radical

Circuito de Mountain Bike ganha popularidade ao promover competições em comunidades pacificadas do Rio de Janeiro.


RIO DE JANEIRO, Brasil – Os atletas descem escadarias íngremes, percorrem passarelas e atravessam becos com suas bicicletas.
No Circuito Mountain Bike de Favelas 2013, as comunidades cariocas oferecem percursos tão radicais quanto os tradicionais do esporte. A cada etapa, mais torcedores e praticantes se rendem ao esporte, que tem lugar garantido nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio.
“Descobri que esporte radical é muito bom”, diz o mecânico de bicicleta Ronaldo da Silva Leandro, 41. “Quando você está com a adrenalina alta, não tem tempo de pensar em coisa ruim.”
Morador do Turano, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio, Leandro sempre gostou de subir e descer o morro de bicicleta. Em 6 de abril, ele foi um dos 90 atletas participantes da segunda etapa de Down Hill do Circuito Mountain Bike de Favelas 2013, no próprio Turano.
O Circuito começou em 2011 com duas etapas, Turano e Morro dos Macacos, em Vila Isabel. Em 2012, houve outras duas: no Morro do Borel, na Tijuca, e no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio.
A consolidação veio este ano, com oito provas, sendo cinco na modalidade Down Hill – Pavão/Pavãozinho (10 de março), Turano (7 de abril), Alemão (2 de junho), Mangueira (21 de julho) e Providência (8 de setembro) – e três em Cross Country – Turano (14 de abril), Alemão (12 de maio) e Borel (10 de novembro).
“As provas de mountain bike geralmente acontecem em lugares afastados, no meio do mato, sem nenhuma visibilidade. A favela leva visibilidade para o esporte, para os atletas e para a comunidade”, diz ciclista e organizador do circuito, Thiago Gomes.
As provas de Down Hill do Circuito têm cerca de 1 km de descida e obstáculos, com os atletas largando um de cada vez e competindo contra o relógio. Nas de Cross Country, os atletas largam todos juntos e percorrem cerca de 5 km de trilhas com muitos obstáculos e descidas e subidas técnicas.
Todas as favelas do circuito são pacificadas e a inscrição é gratuita para moradores do morro onde é realizada a prova.
A modalidade olímpica Cross Country atrai nomes conhecidos do esporte, como Ricardo Pscheidt, 32, que disputou os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio.
Com apoio da Secretaria de Esporte e Lazer do Estado do Rio de Janeiro e patrocínio da Light – companhia de energia elétrica do Rio – e da concessionária de telecomunicações Oi, o circuito movimenta cerca de R$ 100.000 por etapa.
Segundo Gomes, a maior parte é para pagar moradores dos morros que ajudam na montagem e na realização do evento e para instalar a estrutura, que conta com rampas, proteções, tendas com frutas e água, socorristas e seguro para os atletas. No Turano, cerca de 100 moradores participaram.
Há também R$ 10.000 em prêmios, divididos entre os ganhadores, de acordo com a categoria. O primeiro colocado da categoria elite de Cross Country, por exemplo, ganha R$ 1.800.
“Nós também oferecemos uma contrapartida social, diz Gomes. “Nos dois anos anteriores, tivemos cursos profissionalizantes gratuitos de mecânicos de bicicleta para 20 jovens de cada comunidade. Dessa vez, teremos curso de capacitação para ecoturismo no Turano, que fica ao pé da Floresta da Tijuca, e provavelmente no Borel e Chácara do Céu.”
Na primeira etapa do Circuito Mountain Bike de Favelas 2013, em março, no Morro Pavão/Pavãozinho, em Copacabana, Zona Sul do Rio, Pedro Dester, 14, ficou em segundo lugar na modalidade Down Hill na categoria Kids, até 14 anos.
Os R$ 200 que recebeu de premiação foram integralmente reinvestidos no esporte. Morador de Rio das Ostras, cidade na Região dos Lagos a 170 km do Rio de Janeiro, Pedro gastou R$ 50 na inscrição da segunda etapa, realizada em abril no Morro do Turano. O restante do dinheiro foi usado em passagens de ônibus para ele e a mãe, Verônica, e hotel.
No Turano, Pedro ficou em terceiro lugar.
“Com o prêmio de R$ 100, vou poder participar da terceira etapa, no Alemão. Meu pai mora lá e vai ter a oportunidade de me ver competir”, conta Pedro.
Nascido e criado no Morro do Alemão, Wagner Azevedo, 30, é dono de uma loja de roupas na comunidade. Ele começou no Cross Country, mas logo mudou para o Down Hill.
“O pessoal do Cross Country sobe e desce o tempo todo. Tem que ter preparo físico de atleta, viver para o esporte. Eu sou trabalhador, atleta de domingo, sem tempo nem dinheiro para a preparação necessária”, diz Azevedo. “O que eu gosto mesmo é de descer o morro, de ganhar velocidade.”

 Pedro Dester, 14, subiu ao pódio na categoria Kids nas duas primeiras etapas do Circuito Mountain Bike de Favelas 2013. Acima, ele desce uma escadaria no Morro Pavão/Pavãozinho, em Copacabana, Zona Sul do Rio. (Cortesia de Pedro Cury)As provas do Circuito Mountain Bike de Favelas 2013 entraram no calendário do Ranking Estadual de Down Hill, possibilitando que o atleta some pontos no ranking. Acima, Djoni Fornari, vencedor da categoria Pró-Masculino na etapa do Turano. (Cortesia de Pedro Cury)No Circuito Mountain Bike de Favelas 2013, os moradores ajudam a montar rampas como esta da foto. (Cortesia do Circuito Mountain Bike de Favelas)O Circuito Mountain Bike de Favelas vem atraindo nomes conhecidos do esporte. (Cortesia do Circuito Mountain Bike de Favelas)

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