quarta-feira, 1 de maio de 2013

Rio de Janeiro: passeio pela herança africana

Rio de Janeiro: passeio pela herança africana

Roteiro turístico na região do Porto Maravilha começa com a história dos escravos que chegaram à cidade no século 19 e termina com roda de samba.


RIO DE JANEIRO, Brasil – Dois sítios arqueológicos descobertos em 2011, durante as obras do Porto Maravilha, viraram roteiro turístico no Rio de Janeiro.
O Cais do Valongo e o Cais da Imperatriz, construídos em 1811 e 1843 respectivamente, são retratos do passado da zona portuária da cidade. Desde o fim de 2012, eles se tornaram as principais atrações do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana.
Considerado o maior porto para a chegada de africanos escravizados do mundo, o Cais do Valongo foi criado para o desembarque de mais de 500.000 escravos da África entre 1769 e 1830.
Posteriormente, foi remodelado pelo arquiteto francês Grandjean de Montigny para receber a princesa Teresa Cristina Maria de Bourbon, noiva do imperador Dom Pedro II. O Cais do Valongo passou, então, a se chamar Cais da Imperatriz.
“O Cais da Imperatriz, cheio de pompa e circunstância, foi construído por cima do Valongo para apagar a memória do Brasil escravo”, conta Herica Lima, estudante de história e guia do projeto Meu Porto Maravilha, que mistura o passado e o futuro da região portuária numa exposição interativa em um galpão vizinho ao monumento histórico.
“Depois, o cais passou por várias transformações até ser aterrado em 1911. O Valongo e a Imperatriz são os maiores achados do Porto Maravilha”, diz Herica.
Além dos cais, fazem parte do circuito histórico o Jardim Suspenso do Valongo, um jardim romântico localizado na antiga Rua do Valongo, onde escravos eram vendidos; a Pedra do Sal, onde o sal era descarregado pelos escravos e que, posteriormente, virou o berço do samba carioca; e o Cemitério dos Pretos Novos, apontado como o maior cemitério de escravos das Américas.
A Prefeitura do Rio de Janeiro planeja inaugurar até o fim de 2013 o Centro Cultural José Bonifácio, com exposições sobre a cultura afro-brasileira, e o Largo do Depósito, que concentrava parte do mercado negreiro da região.
Com 1,2 km de extensão e presença nos bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, o trajeto do circuito foi definido pela prefeitura, moradores e representantes de movimentos negros.
“Ainda temos que trabalhar muito na ampliação do conhecimento da história da região, que se funde à história do Rio”, diz Alberto Silva, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Porto (Cdrup), responsável pelas obras no porto. “Muitos nem sabiam que essa área existia.”
Visitas guiadas
Todos os pontos possuem totens informativos com mapa da região. A exposição Meu Porto Maravilha oferece visitas guiadas gratuitas aos Cais do Valongo e da Imperatriz e ao Jardim Suspenso do Valongo de terça-feira a domingo, às 11h e às 14h.
“Depois que o Centro Cultural José Bonifácio for reaberto e o Largo do Depósito restaurado, a Cepir [Coordenadoria Especial de Políticas Pró-Igualdade Racial] deverá ficar responsável pelas visitas guiadas a todos os pontos com uma roda de samba, na Pedra do Sal, fechando o roteiro”, diz Fajardo.
Mas o samba já existe para quem quiser ir sem guia. Toda segunda-feira à noite, há uma roda de samba de raiz gratuita na Pedra do Sal.
O Jardim Suspenso do Valongo, projetado no início do século XX pelo arquiteto Luis Rey e parte do plano de remodelação da cidade pelo prefeito Pereira Passos, foi totalmente restaurado. No local, podem ser vistas as estátuas de deuses romanos que fizeram parte do Cais da Imperatriz e um pequeno acervo de objetos domésticos dos séculos passados.
Descoberto por acaso, em 1996, o Cemitério dos Pretos Novos funciona como centro cultural e sítio arqueológico. Os negros vindos da África que não resistiam à viagem e morriam antes de serem comercializados eram enterrados ali. Estima-se que tenham sido depositados em valas coletivas no local os corpos de 20.000 a 30.000 negros.
“A UNESCO está analisando a possibilidade de classificar os cais do Valongo e da Imperatriz como Patrimônio Cultural da Humanidade,” diz Fajardo.
Mais sobre o Circuito
Cais do Valongo e da Imperatriz: Localizado na Avenida Barão de Tefé, entre a Avenida Venezuela e Rua Sacadura Cabral, na Saúde, fica sempre aberto ao público.
Jardim Suspenso do Valongo: O jardim fica na encosta da atual Rua Camerino com a Ladeira do Morro do Valongo, na Saúde. O jardim e a Casa da Guarda ficam abertos aos visitantes diariamente, das 10h às 18h.
Pedra do Sal: No fim da Rua Argemiro Bulcão, no Largo João da Baiana, no Morro da Conceição, fica a Pedra do Sal. Nas noites de segunda-feira, a partir das 19h, o espaço abriga uma roda de samba.
Cemitério Pretos Novos: Localizado na Rua Pedro Ernesto, 32-34, no Bairro da Gamboa. Ao lado do cemitério, o Instituto Pretos Novos fica aberto de terça à sexta-feira, das 13h às 18h. Para visitar aos sábados, domingos e feriados é preciso agendar pelo telefone (21) 2516-7089.
Centro Cultural José Bonifácio: Rua Pedro Ernesto, 80. Em obras.
Largo do Depósito: No encontro das ruas Camerino com Barão de São Félix (Praça dos Estivadores). Em obras.

  As ruínas dos Cais do Valongo e da Imperatriz foram descobertas durante as obras do Porto Maravilha, em 2011. (Cortesia de Tânia Rêgo/ABr) A Escadaria da Pedra do Sal, onde escravos descarregavam o sal que chegava de navio. O local virou mais tarde o berço do samba carioca. (Cortesia do Porto Maravilha) Estima-se que os corpos de 20.000 a 30.000 negros tenham sido depositados em valas coletivas no Cemitério dos Pretos Novos, um barracão do antigo mercado negreiro localizado no Valongo. (Cortesia do Porto Maravilha)

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